quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Infibulação ( Meninas D'África )








Adolescente da aldeia do Quênia,
teu grito na foto o pânico ateia.
Carpindo-te meu susto pranteia!


Junto a ti lanço meu grito:
- Rito dor mito -
pela dor que é tua, mas eu sinto,
pelos olhos que são teus,
mas eu leio:
- lacrimais...


Ritual milenar que adolesce
todo dia na flor da menina
- menina do Quênia.
Menina dos olhos meus:
eu vejo!


Tradição pode ser dor:
a dor é mais velha que a cultura.
Sutura da alma na carne,
palma da mão de Deus
perfurada em cruz fixa.
Sangue dos breus.


Negra criança africana, tu choras,
agonizas inocente, poente, agora!


Adolescentes do Zaire
Niger, Nigéria... Ninguém gera...
Era tanta aflição atrás da vida!
O acaso dita a dor atroz da lida.


Mali, Burkina Faso, Costa do Marfim...
Que fazer - ai de mim! -
com aquela expressão?


Vi na foto antiga:
sucumbias na ingenuidade,
idade da flor - maldade!


Veleidades primitivas, assiduidades...


Menina da Guiné, Serra Leoa
Senegal, Chade, Sudão:
genital mutilação...
Relativismo antropológico,
lógico!, filhas da tradição!


Uganda, Eritreia, Gâmbia, Libéria...
Libera, libera, libera,
libera tanta dor,
negra dor!
Extirpação do clitóris...
Infibulação de pura cor vermelha,
flor de adolescer
pensamento...


Facas, tesouras, giletes, cacos de vidro...


Cacos de vida, ecos da morte:
instrumentos de uma concepção,
de um tempo, de um povo:
machismo, ilusão...


Relativismo cultural?


Sempre macho é o poder...








Torres Matrice


21/11/96

Nenhum comentário:

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...